Às vezes acontecem algumas coisas em nossas vidas que são muito estranhas.
Na semana passada, por exemplo, em razão de estar atolado com os meus serviços jurídicos, eu me encontrava sem inspiração para um tema legal para postar nos Invicioneiros.
E de repente, havia me dado a vontade de escrever sobre os cartunistas Angeli e Glauco. Isso mesmo! Eu cheguei a rascunhar um post sobre estas avis raras do cartum brasileiro, quando na sexta-feira pela manhã, fui surpreendido com a morte estúpida do cartunista Glauco e de seu filho por um lunático drogado.
[Não sei o porquê, mas na hora lembrei da morte de John Lennon!]
A partida repentina de Glauco Villas Boas, sem dúvida, deixa um espaço em branco no humor gráfico brasileiro. O Presidente Lula foi muito feliz em sua nota, e acrescento: Glauco foi um insolente cronista que satirizava as neuroses urbanas.
Glauco tinha um estilo de desenho bastante peculiar: os personagens às vezes tinham quatro pernas. Logicamente que não tornaram-se quadrúpedes de uma hora para a outra, é que tratava-se de um recurso psicológico que o cartunista desenvolveu, de forma bidimensional, para mostrar o quanto os seus personagens eram agitados, aflitos e estressados. Curiosamente, diferentes de seu criador: um cara da paz, generoso e sempre em busca de redenção espiritual (daí a sua liderança na Igreja Céu de Maria, cuja doutrina é ligada ao famoso Santo Daime).
Devido ao traço econômico e humor ácido, com piadas curtas e desavergonhadas sobre sexo, drogas e violência, as tirinhas do Glauco, publicadas na Folha de S. Paulo, eram reverenciadas pela crítica. Portanto, eram mais cultuadas do que conhecidas pelo grande público.
Um artista completo, que além de cartunista, era músico e tinha uma banda de rock chamada Bocato Banda Bloco. Fez parte também da equipe de redatores dos programas "TV Pirata" [a melhor série de humor que a TV brasileira já produziu!] e "TV Colosso", ambos da TV Globo.
Divertidos e de puro nonsense, dentre os seus personagens destacam-se: Dona Marta, Geraldão, o Casal Neuras e o Zé do Apocalipse:
Neste momento, imagino o quanto o Glauco, o Henfil e São Pedro devem estar se divertindo às nossas custas, por levarmos as nossas vidas terrenas tão a sério e não termos tempo para rir de nós mesmos...
Harley Coqueiro: um cara da paz, iluminista, torcedor do Galo, evangélico não fundamentalista, pai do Ulisses e do Dante. Já desenhou charges, escreveu poemas e compôs canções gospel. Tem como pecados, gostar em excesso de rock'n'roll, filmes e comida!
3 comentários :
Fiquei chocada também com a notícia,pois sempre adorei as tirinhas dele e o via como uma pessoa do bem, divertido, que via o cotidiano como fonte de humor. Abraços.
15 de março de 2010 às 10:46Prezado Coqueiro, brilhante post. Glauco é um dos meus ídolos dos cartuns brasileiros. Sua visão ampla das angústias humanas atuais e de sempre me impressionam e é um dos que mais utilizo em minhas aulas de Língua Portuguesa, como referência linguística de uma geração apressada, cheia de dúvidas.
15 de março de 2010 às 11:05Coloco o verbo no presente e repito. Glauco é um dos meus ídolos e assim permanecerá, pois sua obra é perene. Ainda que algum Mark David Chapman brasileiro tenha aparecido para matar o homem, ele não consegue matar a obra.
Jô,
15 de março de 2010 às 11:42Você disse bem: o Glauco era o cara. Ele conseguia fazer de nossas mazelas algo divertido e ao mesmo tempo crítico.
EDN,
Falou e disse: o homem se vai e fica a sua obra.
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