Por José Márcio Sousa
Sebastião é um típico sujeito do interior de Minas. Nascido e criado no Mocambo, zona rural de Paraopeba, ele sempre levou uma vida pacata e sem luxos.
Avesso às tecnologias, Sebastião sempre foi mais chegado à prosa “olho no olho”, aquela capaz de estreitar as relações e construir amizades.
Sebastião, que nunca gostou de ser chamado de “Tião” - como muitos outros “Sebastiões” por aí –, era tido como uma “pessoa sistemática”. No interior, quando se diz que uma pessoa é “sistemática”, refere-se ao seu modo de vida metódico, inflexível e quase senil. Além disso, Sebastião não fumava, nem tampouco gostava de beber.
As suas têmporas esbranquiçadas e as entradas da calvície denunciavam as suas mais de quatro décadas de vida.
Ainda solteiro, Sebastião não tinha desistido de procurar uma companheira que fosse capaz de tolerar o seu sistema. Embora fosse um caipira de raiz, Sebastião sempre batalhou nos estudos. Para ele, saber das coisas é tão importante quanto ter saúde. Por isso, nunca se importou em trabalhar durante o dia e estudar à noite. E foi, com muito suor e sacrífico, que conseguiu fazer um curso de torneiro mecânico no SENAI, na cidade de Sete Lagoas.
Pouco tempo depois, acabou conseguindo emprego na IVECO, onde trabalhava para ajudar no sustento da casa. Embora fosse cansativa a viagem diária entre Sete Lagoas a Paraopeba, nunca abriu mão de morar em sua cidade natal. O trânsito e os prédios das cidades grandes sempre lhe deram uma sensação de sufoco, e, para ele, criado na liberdade da roça, não haveria como se adaptar a uma prisão de concreto, buzinas e de pessoas que não se falam.
Em uma de suas viagens de Sete Lagoas para Paraopeba, Sebastião acabou tendo uma experiência que iria mudar os seus conceitos sobre as relações humanas.
Já cansado do dia de labuta, Sebastião fez o que sempre faz ao embarcar no ônibus. Escolheu uma cadeira mais ao fundo, onde tivesse janela. Ajeitou a cadeira de modo que não ficasse nem muito em pé, nem muito deitado; recostou-se e começou a observar à sua volta.
O silêncio sepulcral daquele veículo sempre foi algo que o intrigara. Não entendia como um ambiente tão pequeno, com tantas pessoas juntas e não se ouvia um ruído sequer de conversa entre os passageiros.
Quando muito, era uma musiquinha sertaneja que vinha do som do próprio ônibus.
No meio da viagem, Sebastião notou que tinha um casal ao seu lado. Ambos com a atenção monopolizada pelos seus aparelhos celulares de última geração, que embora chamativos, nunca fizeram o Sebastião se interessar em adquirir um, por considerá-los algo supérfluo.
Sebastião resolve então cumprimentar o casal:
“Taaarde!!!”
O que se ouviu foi apenas a sua própria voz ecoando por todo veículo, sem nenhuma resposta.
Sebastião, meio sem graça, recosta-se no banco.
A moça da poltrona ao lado, olha para ele de relance e responde, retornando os olhos ao celular:
“Boa Tarde!”
Sebastião então tenta puxar conversa:
“Moça, posso lhe fazer uma pergunta?”
A moça, demonstrando uma certa impaciência, coloca o celular entre as pernas:
“Pode, mas rapidinho porque estou ocupada aqui!”
“Que mal lhe pergunte, o que você está fazendo nesse telefone?”
“Estou conversando com um amigo no Whatsapp!”
“ Ah tá. E esse moço aí do lado?”
“Também está conversando com um amigo!”
Estranhando aquela situação, Sebastião faz mais uma pergunta:
“Mas vocês dois aí não são amigos?”
A moça responde, franzindo a testa:
“Uai, somos e daí?”
Sebastião, percebendo que não estava sendo bemquisto, desiste de puxar assunto. Sem conseguir entender direito o rumo daquela prosa, ele matuta: “Que trem esquisito! A pessoa está com um amigo do lado, mas conversa é com o amigo que está longe. Amanhã, quando o amigo que estava longe estiver perto, ela vai querer conversar com o amigo que hoje está perto e que amanhã estará longe. Desta forma, quem está perto sempre estará longe pra essa meninada de hoje!”
“Vou dá um cochilo que é bem melhor!”
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