Este é um post publicado em parte há algum tempo no Poetopias. Da mesma maneira que fiz por lá, faço aqui: o título aparentemente não se relaciona com o objeto do texto. Mas deixo uma correlação lógica: a primeira vitória do Brasil na Copa trouxe-me lembranças de 1982, primeiro jogo do Brasil. A estreia foi contra a extinta União Soviética, em Sevilha e, como a da atual copa, ficou aquém das expectativas. Começamos perdendo, quando a União Soviética abriu o placar com Andriy Bal, aos 33 minutos do primeiro tempo, após um frango do goleiro Valdir Peres.
A União Soviética tinha, na época, o melhor goleiro do mundo: Dassaev. Os soviéticos nos deram um aperto e foram até prejudicados pela arbitragem. Mas dos 15min do segundo tempo em diante, brilhou o nosso talento com a bola. Pressionamos os soviéticos até o empate aos 29 minutos, depois de Sócrates passar por dois cossacos e chutar forte de fora da área. Aí, a consagração: quase no finalzinho do jogo, Paulo Isidoro cruzou a bola pela esquerda, Falcão fez o corta-luz e a Bomba de Vespasiano, Éder Aleixo, detonou. O atacante do Atlético Mineiro dominou a bola e, sem deixá-la cair, deu um chute considerado por muitos como um dos maiores petardos do futebol em todos os tempos. Meu pai e minha mãe vibraram muito comigo naquela época... Deu uma saudade!...
Tive a oportunidade de encontrar com minha madrinha Dinha e ela falou-me de umas histórias legais de São Vicente e de meu pai. É sempre bom ouvir histórias de pai e mãe, no duplo sentido. Se não mais posso ouvi-los contar, que alguém me conte histórias sobre eles. Quem sabe as publique nesse espaço virtual de sonhos e confissões.
O título do post remete a coisa totalmente diferente desse assunto. Tinha intenção de escrever coisa totalmente diversa. Mas não sou dono das palavras. Sou escravo delas e já disse isso outras vezes. Sou escravo delas e submeto-me ao que me orientam, como se psicografasse num fluxo ininterrupto, enquanto ouço Carmina Burana (Fortuna Imperatrix Mundi-Fortune plango vulgare). Mantenho título, ainda que não tenha muita coisa a ver com o post.
Não preciso me estender. Pareço um poeteiro (como classificou este blog um leitor). Respondi-lhe: fazer o quê? Talvez seja meio assim romântico, embora sobrevivi ao mal-do-século. Tenho emoções que não costumo represar. E a palavra permite-me revelá-las, à deriva de meus reflexos de constrangimento. Tenho emoções e incluo nesse post um vídeo legal que vi sobre o tema embora não queira tratá-lo como lema nem problema. Apenas um dilema.
Este espaço virtual apareceu-me como uma janela. Uma oportunidade de ver o mundo panoramicamente e mostrar-me a ele apenas pelo espaço que a janela permite. É injusto? O que é justo? Quem quiser ver-me mais, deverá entrever-me nas entrelinhas. Entreler-me.
“Janelares”
“(…) O pensamento o perde
A emoção o encontra
O sorriso o alcança
E a vida o perece (…)”
(Maria Helena Braz da Silva)
sobrevivo ao mal-do-século
não obstante meu coração em pedaços
insiste em existir
sofro é claro sofro muito muito muito
com a saudade de pessoas que se foram
e não podem mais me contar suas histórias
mas a vida me faz prosseguir
mesmo que sofra
sei que o sofrimento é necessário
para crescer...
pelas janelas vejo o mundo
que apenas me entrevê
vejo a ti
que estás aí a me ler
do outro lado da tela do teu computador
com dor ou sem ela
olhas-me pela janela
que a máquina te permite usar
se tu janelares
descobrirás olhares
que tu não tinhas visto antes
e se enxergares o que está aqui dentro
verás que o mundo não é só teu mundo
sobrevivo ao mal-do-século
não sou tão romântico afinal
descubro palavras e elas me descobrem
desnudam-me perante o mundo
brinco com elas e elas judiam de mim
maltratam-me inexoravelmente
mas depois me consolam
com carinho extremo e muito amor
mas há uma palavra que me machuca
mesmo que sem crueldade
esta palavra que (não ouses dizê-la) tento esquecer
esta palavra que me recuso a dizer
esta palavra: saudade...
| The EDN - sou industriário, trabalho há 27 anos na Cedro (indústria têxtil centenária de Caetanópolis, MG) e atuo como professor há 24 anos em escolas particulares e públicas |
7 comentários :
Belo post.
15 de junho de 2010 às 23:56Confesso que também vibrei muito com o golaço do Éder "The Bomb".
Eu tinha uns onze anos e testemunhei onze magnifícos em campo. Restou uma pergunta que coagula em meu cérebro até hoje: porquê que aquele time não foi campeão daquela copa?
Apenas um detalhe: a jogada do Paulo Isidoro no segundo gol contra os soviéticos não teria sido pela direita?
Gostei da "guinada" que você deu.
16 de junho de 2010 às 12:44A vitória do Brasil, nesta 3ª feira, não remerou nenhum jogo em especial para mim, mas quando você falou em lembranças junto à família, eu me lembrei de 1994, daquele sufoco todo que passamos na final. Meu primogênito estava a caminho, visível chegada para dali a poucos meses e provavelmente vibrou comigo. E o Brasil foi tetra.
Na Copa de 2002, novamente eu estava à espera: veio uma filha.
E o Brasil foi penta.
Nesta não estou...
Mas confio que seremos hexa!
Esqueci de comentar que amei o poema:D
16 de junho de 2010 às 12:45Copa de 82? Li sobre isso em algum lugar!: O fiasco de 82 e as lições de uma copa
16 de junho de 2010 às 14:20Prezados Coqueiro, Professora Cida e Zé Márcio, obrigado pelos comentários. Quanto à referência feita à Seleção de 82, foi um mero motivo.
16 de junho de 2010 às 16:49Coqueiro, creio que a jogada do Paulo Isidoro foi pela esquerda mesmo. Confira no YouTube.
Professora Cida, você então foi premiada duplamente com as duas últimas conquistas brasileiras, mas tenho certeza que o seu prêmio pessoal, seus filhos, são insuperáveis...
Zé Márcio, li o post no Natalina Pura. Muito legal!
Não querendo ser intransigente, a imagem é clara (reveja o lance nos "5 Maiores Petardos do Futebol Brasileiro"): o zagueiro russo rebate a bola pelo "lado direito do ataque do Brasil". Paulo Isidoro que estava pela "direita do ataque", toca para Falcão que faz o corta-luz para Éder que vinha detrás, pelo meio.
16 de junho de 2010 às 17:36A menos que você tenha descrito o lance do ponto de vista do goleiro Dassaev...
@Harley Coqueiro
17 de junho de 2010 às 07:31É mesmo!. Revi o lance e você tem razão.
Abraços e obrigado!
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