Nas minhas agora cotidianas viagens entre Caetanópolis e Sete Lagoas, passo cerca de 50 minutos dentro de um ônibus, que leva passageiros da vizinha Paraopeba também. Às vezes, leio alguma coisa. Mas, na maior parte do tempo, fico observando o que ocorre ao meu redor. Há dias que o veículo encontra-se lotado. Noutras, nem tanto. Em todos os dias, porém, é possível perceber como as pessoas preferem o isolamento.
Caetanópolis e Paraopeba representam as típicas cidades interioranas mineiras, com suas tradições e uma cultura peculiar. Digo que Sete Lagoas, embora seja uma das maiores cidades de Minas (e a que mais vem crescendo), também possui tais características. As pessoas que trafegam nessas viagens pertencem, em sua maioria, a essas três cidades.
Esse isolamento que percebo manifesta-se de três maneiras básicas:
* a preferência por sentar-se sozinho, colocando na poltrona do lado algum objeto que “diga” ao outro que não quer companhia;
* fechar os olhos fingindo dormir ou olhar para a paisagem da janela o tempo todo;
* simplesmente ignorar a presença do outro.
Muitas vezes, acho triste ouvir apenas o ruído do motor do veículo e dos solavancos, enquanto as vozes que ouço invariavelmente são de alguém ao telefone celular. Praticamente ninguém conversa com o passageiro ao lado. Compreendo que o paradoxo da vida moderna esteja inexoravelmente presente. Mesmo com tanta evolução dos meios de comunicação, o homem tem se distanciado cada vez mais um do outro. É interessante perceber que, já com meus 45 anos de vida, não consigo assimilar esse tipo de comportamento, mesmo não sendo daquelas pessoas que se digam expansivas. Muito pelo contrário. Sou extremamente tímido, meio fechado às relações imediatas.
Relato nesse post uma percepção de um mundo moderno, preocupado com o rumo que as coisas tomam. Tenho uma responsabilidade como pai, educador, administrador e cidadão no sentido de influenciar as pessoas e isso é algo que quero sempre fazer com a intenção de torná-las melhor.
Admiro muitas pessoas que deixaram marcas positivas de sua existência e, para ilustrar esse post, quero deixar aos leitores uma música de John Lennon, cuja maior interpretação, para mim, é a de Joe Cocker: “Isolation”.
Isolation
John Lennon
People say we got it made don't they know we're so afraid
we're afraid to be alone, everybody got to have a home
Isolation
Just a boy and a little girl
trying to change the whole wide world
Isolation
All the world is a little town
everybody trying to put us down
Isolation
I don't expect you to understand
after you caused so much pain
But the again you're not to blame
your just a human, a victim of the insane
We're afraid of everyone, afraid of the sun
Isolation
The Sun will never disappear
but the world my not have many years
Isolation
Isolamento
As pessoas dizem que temos a vida boa, não entendem que estamos tão amedrontados?
Temos medo de ficarmos sós , todo mundo precisa de um lar
Isolamento
Apenas um menino e uma menina pequena
Tentando mudar o mundo inteiro
Isolamento
O mundo é apenas uma pequena cidade
Todo mundo tentando nos diminuir
Isolamento
Não espero que vocês entendam
depois de terem causado tanta dor
Mas de novo, você não é culpado
Você é apenas um humano, uma vítima do insano
Estamos com medo de todo mundo, com medo do sol
Isolamento
O sol jamais irá desaparecer
mas o meu mundo não pode ter tantos anos
Isolamento
The EDN - sou industriário, trabalho há 27 anos na Cedro (indústria têxtil centenária de Caetanópolis, MG) e atuo como professor há 24 anos em escolas particulares e públicas |
9 comentários :
Lindo!Várias verdades."O sol jamais irá desaparecer" é nossa esperança para sobrevivermos às agruras do dia-a-dia não é mesmo? Abraços.
1 de maio de 2011 às 12:13Me senti tão sozinho lendo isso ... :( #Isolation
1 de maio de 2011 às 15:12Meu caro Ernane.
1 de maio de 2011 às 19:07Seu relato é bastante pertinente e é fácil perceber esse isolamento crescente do ser humano no nosso dia-a-dia. Um egoismo sem precedente. Onde vamos parar? Será que no futuro ficaremos até isolados dos nossos entes queridos? Uma idéia exagerada, mas aterrorizante.
Se você fosse mulher, teria sempre um engraçadinho pra puxar papo ou, por "descuido", dormir e se encostar em você. Por isso, prefiro sim o isolamento: olhar para a janela é ótimo.
1 de maio de 2011 às 19:42Mas entendo a sua reflexão e aqui em Brasília ela é muito pertinente: não conhecemos nem nossos vizinhos de andar. Cada um anda em seu próprio carro, inclusive pessoas que moram na mesma quadra e trabalham no mesmo lugar.
Talvez essa seja uma das causas desta cidade ser uma das campeãs em suicídio no Brasil.
Eu, na maioria das vezes, também prefiro viajar em silêncio de monastério e cochilando a viagem toda. Ao menos que encontre outro atleticano sofredor para ir de Caetanópolis a Sete Lagoas (e vice-versa) falando de nosso Galo!
1 de maio de 2011 às 21:59Parafraseando a campanha de uma empresa de telefonia móvel: "O isolamento nos conecta".
PS: a banda inglesa Joy Division também tem uma música chamada "Isolation", cuja letra também é um poema clássico sobre a depressão e isolamento. Confira!
Jô Angel, Lennon sabia muito bem o que dizia ao compor essa música, quando sentia já o que seria a dissolução dos meninos de Liverpool.
3 de maio de 2011 às 08:21Zé Reinaldo, é triste perceber isso e como até nós mesmos não conseguimos interagir com o outro, ainda que tentemos. Muitas vezes, arrisco puxar conversa com alguém do lado, mas não funciona.
Ana Flor, as mulheres realmente são mais visadas pelos engraçadinhos, mas o ponto em questão realmente é o que você colocou depois: esse isolamento não é apenas nos veículos de transporte de passageiros, mas em todos os lugares.
Amigo Coqueiro, conheço a música do Joy Division e ela ilustrari amuito bem esse post:
"Amedrontado todo dia, toda noite,
Ele a chama em voz alta de cima
Cuidadosamente espreitando por uma razão,
Meticulosa devoção e amor
Renunciou à auto-preservação
Dos outros que apenas importam-se consigo
Uma cegueira que toca a perfeição,
Mas machuca como qualquer outra coisa.
Isolamento, isolamento, isolamento.
Mãe, eu tentei, por favor, acredite em mim,
Estou fazendo o melhor que posso.
Me envergonha as coisas que tenho feito,
Me envergonha a pessoa que sou.
Isolamento, isolamento, isolamento
Mas se você apenas pudesse ver a beleza,
Destas coisas que eu nunca poderia descrever,
Destes prazeres - caprichosos, distrativos
Este é o meu único prêmio da sorte
Isolamento, isolamento, isolamento..."
Das duas canções, eu grifo os versos:
3 de maio de 2011 às 09:06"O mundo é apenas uma pequena cidade
Todo mundo tentando nos diminuir"
("Isolation" by Lennon)
"Mãe, eu tentei, por favor, acredite em mim,
Estou fazendo o melhor que posso.
Me envergonha as coisas que tenho feito,
Me envergonha a pessoa que sou."
("Isolation" by Ian Curtis)
Ah, belo "post"!!!
Muito bem!
9 de maio de 2011 às 21:53Concordo com tudo que você falou e também sinto isso nas minhas viagens de ônibus, confesso que também costumo colocar objetos do meu lado ou coloco um fone de ouvido para ouvir musicas, mas acho que também não é bem não querer conversar ou interagir com alguém, que utilizo estes momento para pensar nos problemas e assim achar uma solução para eles!
Incrível esse post, parabéns mais uma vez!!!
Renato Drumond
@Renato
29 de maio de 2011 às 16:36Valeu, Renato! O isolamento, na verdade, permite-nos de fato a reflexão. Pelo menos você aproveita esse momento. Eu estou entrando nessa também. A cada dia me isolo mais.
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