Como é que são as coisas: o meu decodificador da SKY pifou de vez. Então, enquanto aguardava a visita de um técnico para a troca do equipamento, tive que recorrer à programação da TV aberta convencional.
E numa dessas tardes eu assisti a um programa da TV Cultura (sempre uma excelência em sua programação), chamado de “Manos e Minas”, dirigido ao público que gosta de rap e hip-hop.
E não é que vi um cara chamado de “Criolo” (já foi chamado de “Criolo Doido”, que prefere ser chamado de MC a cantor), acompanhado de uma banda composta de guitarra, baixo, bateria, teclado, DJ, metais e quarteto de cordas. Quando começou a cantar a música “Não Existe Amor em SP”, eu percebi algo em sua verve, raro nestes tempos de entressafra na MPB: poesia puramente suburbana, sem o intelectualoidismo presunçoso de outrora e a futilidade de agora: “Os bares estão cheios de almas tão vazias”.
Como outros blogueiros, também tive a idêntica sensação quando ouvi pela primeira vez “Smells Like Teen Spirit”, “Maracatu Atômico” e “Domingo no Parque”. O seja: os mesmos entusiasmo e inquietação, quando descobri Nirvana, Chico Science e Racionais MCs.
Fiquei ali parado na frente da TV, em transe, prestando atenção na letra e no andamento da música. Criolo canta um soul com o estilo peculiar da bossa nova. Ao vivo, a música vai ganhando tensão e cólera a cada acorde, chegando ao ápice com um solo de guitarra a la Hendrix, duelando com o quarteto de violinos, coisa que atualmente, somente o Radiohead conseguia.
Prestem atenção na letra e nos vídeos. Pode ser que o amor anda raro em SP, mas ainda há talento nas periferias…
“Não Existe Amor em SP”
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
Cuidado com o doce
São Paulo é um buquê
Buquê são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Não existe amor em SP
Os bares estão cheios
De almas tão vazias
A ganância vibra
A vaidade excita
Devolva minha vida
E morra afogada no seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu
Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro tuas nuvens em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus
Simbolismos das frustrações urbanas:
Criolo ao vivo, no SESC da Vila Mariana (SP), no lançamento do álbum “Nó na Orelha”:
Harley Coqueiro - um cara da paz, iluminista, evangélico não fundamentalista, pai do Ulisses e do Dante. Já desenhou charges, escreveu poemas e compôs canções gospel. Tem como pecados, gostar em excesso de rock'n'roll, filmes e comida! |
2 comentários :
Concerteza, Criolo , um grande poeta
13 de abril de 2012 às 13:49MUITO BOM,,,, Q SOMM...... ÓTEMO !
27 de abril de 2012 às 14:55Postar um comentário
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