Você, caro leitor, se lembra de algum grande lateral (direito ou esquerdo) do time de seu coração, nos últimos tempos?
No meu time, o Atlético Mineiro, eu não lembro de nenhum nos últimos dez, quinze anos, que tenha brilhado no Galo. Talvez o Dedê, em 1997 e o Mancini, em 2002, que jogaram bem, mas não da forma brilhante quanto um Nelinho, Getúlio e Circuneghi, que atuaram nas décadas de 80 e anteriores.
E da Seleção Brasileira? O último grande lateral que eu me lembre foi o Roberto Carlos.
O futebol, principalmente o brasileiro, assistiu a significativas transformações da década de 70 até agora. Embora o futebol é um esporte conservador por natureza e quase imutável, viu-se obrigado a passar por adaptações, na busca por esquemas táticos vencedores e inovadores (vide o Carrossel Holandês de 74).
Até a década de 70, início de 80, com a predominância do esquema 4-3-3, utilizavam-se os atacantes pontas, na direita e na esquerda do ataque. Os laterais, até então, eram jogadores que priorizavam a marcação, ajudando o miolo de zaga a conter as investidas dos pontas e do centroavante.
A partir de meados da década de 80 em diante, por causa do esquema 4-4-2, os times passam a utilizar apenas dois atacantes. As equipes, estrategicamente, já não ousam mais a jogar aberto com dois pontas, por causa do congestionamento no meio de campo, que além de propiciar solidez no sistema defensivo, trunca o meio de campo, forçando o time adversário ao erro. Daí surge a importância do novo lateral, que além de marcar, tem de ter técnica e fôlego suficientes para apoiar o ataque, com jogadas de “dois-um” e cruzamentos da linha de fundo, ao estilo dos antigos pontas (que outrora marcavam). O novo lateral, com o esquema 4-4-2, propicia abrir o jogo para as laterais do campo, sendo uma alternativa ofensiva, sem sobrecarregar o sistema defensivo, compensando as funções dos antigos pontas, tidos como arcaicos. O futebol perde um pouco do encanto, mas ganha em competitividade e resultados.
Na minha opinião é a posição mais exigida no futebol contemporâneo. O atleta tem que estar 100% técnica, física e psicologicamente. O lateral moderno tem de marcar bem, desarmando, ajudando a defesa; no ataque, tem de ser veloz, raciocinar rápido, chegar na linha de fundo e ter um ótimo cruzamento; e ainda voltar rápido para recompor a defesa, ufa! Uma função sobre-humana. E o pior: joga ao lado do alambrado, ao lado de sua torcida e do técnico, dependendo do tempo. Não há como fugir, jogando no centro ou invertendo lado. Se no segundo toque na bola, errar o passe, a sua própria torcida se impacienta e afunda o jogador em seu inferno astral. E isso ocorre em todo os times, pequenos, médios ou grandes.
Os técnicos de futebol, atentos ao desgaste dos laterais, deslocam os volantes para cobrirem a descida do lateral (quando “desce”, o do outro lado fica) e delimitam o momento exato de realizar as suas Blitze sobre a defesa adversária, de acordo com as condições físicas dos laterais.
Mas se conseguir ter confiança o bastante em seu futebol, o lateral é praticamente meio time. Grandes laterais tornaram-se, ainda no fim da carreira, em grandes armadores no meio de campo: Júnior (ex-Flamengo), Paulo César Bayer (Atlético-PR), Felipe (Vasco), são poucos mas significativos exemplos.
Se a preparação de goleiros no futebol brasileiro tem um grau de excelência digno de ISO 9000, é preciso que os clubes, desde a base, tenham uma atenção ainda maior com os laterais em potencial, pela sua importância no futebol atual.
Sobre o Autor:
Harley Coqueiro - um cara da paz, iluminista, evangélico não fundamentalista, pai do Ulisses e do Dante. Já desenhou charges, escreveu poemas e compôs canções gospel. Tem como pecados, gostar em excesso de rock'n'roll, filmes e comida! |
3 comentários :
Bem, no meu Corinthians, passaram com destaque nos últimos anos André Santos, Roberto Carlos, Kléber, Silvinho, Rogério e não me lembro de mais nenhum.
21 de junho de 2011 às 01:33O problema também é que toda vez que um lateral desponta, logo querem deslocá-lo pro meio de campo.
Abraços.
Os bons laterais ainda existem, porém o perfil exigido para eles mudou significativamente, conforme você mesmo relatou no post. Mas dá saudades de grandes laterais que passaram pelo futebol brasileiro como os que você citou, mas com alguns acréscimos meus: Paulo Roberto Prestes (grande lateral-esquerdo do Galo), Nonato (craque de bola, lateral-esquerdo celeste), Cafu (não podemos esquecer esse craque dentro e fora dos gramados), Sorín (sem dúvida, marcou muitíssimo o futebol brasileiro como elemento surpresa), Carlos Alberto Torres, Djalma Santos e Nilton Santos (três craques que dispensam apresentações), Branco e Leonardo. Os grandes laterais, na verdade, são quase todos de um passado mais remoto, com raras exceções. Isso reforça a carência atual, destacada no seu post.
21 de junho de 2011 às 08:10Júnior Silva,
21 de junho de 2011 às 09:29Você me fez lembrar do André Santos, bom lateral que também jogou no Galo em 2006. O Kléber jogou demais pelo Timão em 1999!
The EDN,
Você lembrou grandes craques que jogaram na lateral. Eu tentei puxar na memória, craques europeus da posição e não consegui me lembrar de algum que se destacasse.
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