Uma piada não precisa ser recontada e muito menos explicada. Às vezes, nem entendida. O código de ética do humor é taxativo ao vedar ampla, geral e irrestritamente a explicação de uma anedota, por subestimar a inteligência do receptor.
Eu sou da corrente de que não existe piada ruim. O que pode ocorrer é a existência de um humorista sem carisma ou, do outro lado, um receptor com dificuldades de dedução, indução e audição (ou na pior das hipóteses: sem o mínimo senso de humor), o que pode transformar uma anedota em “pérolas aos porcos”. Oscar Wilde tinha razão quando disse que se o homem das cavernas tivesse descoberto o riso, o futuro da Humanidade seria outro...
Porém, podem haver exceções a este dogma: há momentos em que se faz necessária a elucidação de uma piada em face de “sutilezas contextuais”: fatos, hábitos e características culturais de um povo, etc. É o que ocorre quando nos deparamos com o sofisticado humor britânico que, por razões linguísticas, muitas vezes soa sem sentido para nós.
Certa vez bolei e publiquei uma piada na coluna Bola Murcha do jornal Supernotícia:
Nesta piada ocorreu um detalhe interessante: todos os caras que gostam de futebol, entenderam o trocadilho entre beques (zagueiros) e Uzbequistão (ex-República Soviética), bem como a “filosofia de jogo viril” do técnico Felipão, na época técnico no Uzbequistão. Já as mulheres, até mesmo as que gostam de futebol, tiveram dificuldades em perceber o que havia de jocoso na piada. E tal fenômeno, creio eu, nada tem a ver com a percepção masculina ou feminina diante de uma anedota. Entendo que deve-se mais às informações e particularidades de um esporte que, no Brasil, ainda é mais direcionado para o público masculino.
E dentro do campo da percepção humorística, a Folha de Paraopeba publicou na edição de janeiro, uma charge minha e alguns leitores me procuraram, alegando que não entenderam o desenho, e eu, solícito, tive de explicar de que se tratava a cena “nonsense”, carregada de humor negro:
A charge acima retrata, em tese, a sepultura de uma mulher que teve implantadas as próteses de silicone mamárias da marca francesa PIP – Poly Implantes e Próteses (eis a razão dos “dois montes”…). Tais próteses foram banidas do mercado, gerando inclusive a prisão do dono da PIP, sob a alegação de utilização de silicone de baixa qualidade e o risco iminente de vazamento, que pode ocasionar sérios riscos à saúde e até levar à morte.
Na lápide há uma brincadeira gráfica e fonética com RIP (sigla inglesa que significa “descanse em paz”) e PIP (nome da fábrica francesa).
É compreensível que algumas pessoas, à primeira vista, não terem entendido a “gag” e o “espírito da coisa”, em razão das informações e sutilezas contidas na charge. Mas isso me fez cair no “sepulcro da contradição”: às vezes, se faz necessário explicar uma piada, boa ou não…
Sobre o Autor:
![]() | Harley Coqueiro - um cara da paz, iluminista, evangélico não fundamentalista, pai do Ulisses e do Dante. Já desenhou charges, escreveu poemas e compôs canções gospel. Tem como pecados, gostar em excesso de rock'n'roll, filmes e comida! |
5 comentários :
Coqueiro, quando se trata humor, acredito que sou uma pessoa que a maioria dos humoristas gostaria de ter como plateia, pois tudo me diverte e acabo dando boas risadas. Às vezes, realmente a piada não é boa, mas o humorista tem tanto carisma, que acabamos rindo dele( ou com ele). Ao contrário, o humorista pode não ser dos melhores, mas, se a piada é boa, a minha risada é certa. E, acredite se quiser, às vezes, ambos são ruins( piada e humorista), mas acabo rindo de tão ridícula que a situação me parece.Por falar em piada, adorei aquela que vc publicou sobre gravidez de quadrigêmios, ou melhor, sobre a barriga da grávida. rsrs Ótima!Parabéns!!!
6 de fevereiro de 2012 às 17:49@Tia Fabiane
7 de fevereiro de 2012 às 08:41Que legal, Fabiane, que você tenha gostado da piada!
O problema é que o pessoal está espalhando o boato de que aquela piada tem a ver com alguma experiência pessoal minha... KkKkKkK!
@Harley Coqueiro
7 de fevereiro de 2012 às 10:39Que povo maldoso!!!!kkkkk
Aproveito para, mais uma vez, parabenizá-los pelo blog. Adoro dar uma passadinha e ler os artigos. Sempre criativos e inteligentes.
A piada pressupõe uma série de intertextos, mas, sem dúvida alguma, a apresentação e o contexto são essenciais. Por isso que, dependendo do caso, determinadas piadas de filmes estrangeiros não fazem sentido para nós.
7 de fevereiro de 2012 às 12:04Belo post, Coqueiro!
Costumo dizer que contar piada é uma arte. A piada pode ser ruim, mas se o contador souber temperar, acaba ficando engraçado. O contrário tb é comum, piada boa mal contada.
7 de fevereiro de 2012 às 12:54Postar um comentário
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