Certa vez, eu ouvi alguém dizer que o Maradona não servia de exemplo para os mais jovens em razão de seu comportamento controverso dentro e fora de campo. Não vou entrar em polêmicas envolvendo o ex-craque argentino, mas entendo que os modelos comportamentais para uma pessoa, começam em casa. O pai e a mãe (ou os responsáveis) são os detentores dos referenciais para a moldagem do caráter de uma criança. Portanto, o “exemplo para os mais jovens” partir de um astro do futebol ou de um galã de Hollywood soa um absurdo. Imagine os pais querendo que os filhos sigam os “exemplos” de celebridades do BBB ou do UFC?O problema é que com esta tumultuada vida moderna, os pais estão cada vez mais distantes de seus lares e vão, ainda que involuntariamente, renunciando aos seus mandatos para terceiros: a avó, quem cria; a babá, quem educa e o “videogame”, “quem” faz companhia...Um dos equívocos da modernidade é tratar alguns conceitos tradicionais de forma execrável em vez de revê-los. A família é um deles. A partir dos psicodélicos anos 60, a instituição familiar passou a ser achincalhada. Nos anos 80, chegaram a decretar a sua “falência”. Uma fala extraída do filme “A Partilha” (2001) resume bem esta deturpação: “Isto é uma família e não uma democracia!”. E a consequência da ruína nos lares é a selvageria que tomou conta das ruas...A tecnologia, que a princípio foi concebida para tornar mais fácil a vida do homem, está se tornando o algoz que subjuga e escraviza. E no seio familiar, isso ainda é mais nocivo. Não se pretende aqui um retorno à idade das cavernas, porém os nossos “smartphones” de última geração estão nos deixando cada vez mais isolados, acomodados, frios e medrosos. E vamos exigir mais o que de nossas crianças, além de terem de dar conta do controle remoto da TV que sumiu?É notório que a missão de se criar e educar filhos hoje em dia não está nada fácil. A busca do equilíbrio entre proteção e liberdade é o objetivo a ser alcançado. Sabe-se o quão é contraditório dar exemplos de que trabalho e dignidade valem mais que dinheiro e poder. Ainda que com a cabeça tomada pelos problemas cotidianos, não podemos deixar de dispensar cuidado, afeto, atenção, disciplina e ética. O complicador é que você se esforça em transmitir princípios, valores e temor a Deus, mas as futilidades deste mundo parecem ser mais eloquentes sobre os pequenos.Mas nós, pais, não podemos baixar a cabeça: o mundo a cada dia nos desafia a defender a nossa prole da vilania real e virtual que nos rodeia. E nestas horas é preciso ter sabedoria e muita fé em Deus, pois a despeito de sermos humanos – demasiadamente humanos – não podemos abdicar do posto de heróis “infalíveis” de nossos camaradinhas!
[Crônica publicada na Folha de Paraopeba, edição de abril de 2012]
Bonus Track [1]:
O que me inspirou a escrever esta crônica?
O comercial da Coca-Cola com a música “Heroes” de David Bowie:
Bonus Track [2]:
Se existem heróis, existem vilões…
[Charge publicada na Folha de Paraopeba, edição de abril de 2012]
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Harley Coqueiro - um cara da paz, iluminista, evangélico não fundamentalista, pai do Ulisses e do Dante. Já desenhou charges, escreveu poemas e compôs canções gospel. Tem como pecados, gostar em excesso de rock'n'roll, filmes e comida! |
2 comentários :
Verdade é que hoje grande parte dos pais estão transferindo a responsabilidade de educar. Seja para um parente, seja para a escola. Querem que outros ensinem valores que eles mesmos não possuem ou não souberam repassar aos filhos. Depois ainda reclamam da desobediência, da má criação, da falta de limites. Como bem sentenciou Pitágoras: Eduque às crianças e não será necessario castigar aos homens.
14 de maio de 2012 às 11:00Tenho algumas convicções como pai: de que preciso imensamente do apoio da minha esposa na educação dos meus filhos; de que não adianta esperar que meus filhos sejam perfeitos; de que posso ser uma referência para eles como homem, mas deixo claro para eles que sou também imperfeito e que vou errar muito; de que eles aprenderão muitas coisas fora do ambiente familiar que eu e minha esposa não poderemos filtrar nem lhes dizer se são boas ou ruins, por isso mesmo cabe a eles discernirem e decidirem o que fazer com isso; que criamos nossos filhos não para serem melhores, piores ou iguais s nós, mas para que vivam suas próprias vidas no caminho do bem, preservando a religiosidade, o bom caráter e a busca da felicidade com todo o respeito pelas pessoas e pelo mundo onde vivem. E acima de tudo, ensino meus filhos a amar incondicionalmente, como eu amo minha esposa, como ela me ama e como nós amamos nossos filhos.
14 de maio de 2012 às 13:52Postar um comentário
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