Apreciador e pesquisador da música pop produzida no Brasil na década de 80, resolvi postar, por amostragem, três hits daquela década que mostram não apenas o talento de seus compositores, mas um detalhe que quase sempre passa desapercebido pelos ouvintes: o Toque de Midas de um bom produtor musical.
Para quem gosta de música pop e teve a oportunidade de acompanhar o boom das produções musicais dos anos 80 no Brasil, é inevitável a comparação com o que se produziria nas décadas seguintes e, principalmente, atualmente. Mas não quero aqui fomentar discussões fúteis sobre gostos e produções musicais de décadas distintas. Em momentos como esses, recorro ao poeta T. S. Eliot, que um dia pregou: “Cada geração deve prover a sua própria crítica”.
Até por que já não dá sequer para afirmar se hoje existem produções pop (criou-se o rótulo pop rock para abarcar produções menos hardcore), com o predomínio da música sertaneja (com as suas várias vertentes) e do funk suburbano carioca (que de funk, mesmo, não tem quase nada) sobre os demais estilos musicais no gosto popular.
A produção musical, a grosso modo, trata-se do “arranjo” de uma música, só que emoldurado pelos recursos e truques de gravação e de estúdio, de forma pessoal e estilística. A produção envolve engenharia de som, estudo de timbres, frases, ideias, experimentalismos, sutilezas, pontuações rítmicas, efeitos, mixagens, inserção de instrumentos, noções de minimalismo, contratação de músicos e técnicos de som, etc.
Por exemplo: a base de uma música seria um homem nu; a produção musical, a vestimenta black tie deste mesmo homem.
O Wikipédia define o que vem a ser um Produtor Musical:
Na indústria musical, um produtor musical ou produtor discográfico é o termo que designa uma pessoa responsável por completar uma gravação master para que esteja pronta para o lançamento. Eles controlam as sessões de gravação, treinam e guiam os músicos e cantores e fazem a supervisão do processo de mixagem.
Na primeira metade do século XX, o papel do produtor musical lembrava aquele do produtor cinematográfico, em que o produtor musical supervisionava as sessões de gravação, pagava os técnicos, músicos e os responsáveis pelo arranjo das músicas, e algumas vezes até escolhia material para o artista. Pela década de 1960, os produtores musicais pegaram um papel mais direto no processo musical, incluindo criar arranjos, cuidar da engenharia da gravação e até mesmo escrever o material. Através de tudo isso, os produtores têm tido uma forte influência, não apenas em carreiras individuais, mas no curso da música popular.
Hoje em dia, com a diminuição dos custos de material, aumento dos interessados na área e com o grande aumento de marcas, modelos e tipos de material, há cada vez mais home-studios e produtores caseiros. Muitos artistas tornaram-se produtores musicais sozinhos, e o contrário também já ocorreu: produtores viraram os artistas.
É verdade: com o avanço da tecnologia, os grandes estúdios ficaram raros, já que hoje com um software de fácil operação e uma ideia na cabeça, qualquer um, até mesmo sem ter muitas noções, consegue produzir músicas no seu quarto.
As três músicas a seguir, exemplificam a força de seus produtores, verdadeiros alquimistas do som.
Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens - “Como Eu Quero” .
Música produzida pelo genial e lendário Liminha para o 2º compacto da banda. Produção inspirada em “Save A Prayer”, do Duran Duran, e ficou tão boa quanto.
“Como Eu Quero” depois viria a fazer parte do álbum “Seu Espião”, lançado em 1984.
Os Paralamas do Sucesso “Óculos”.
Ska-rock produzido por outro mago das produções musicais: Marcelo Sussekind. A música faz parte do álbum “O Passo do Lui”, de 1984.
O resultado mataria de inveja a turma do The Police, cujo estilo musical o Paralamas foi acusado de copiar.
Titãs “O Quê”
Música também produzida por Liminha para o álbum “Cabeça Dinossauro”, lançado em 1986.
Funk “racha assoalho” (isso sim é Funk!) com vocais dadaístas e letra de poesia concreta de Arnaldo Antunes.
Bonus Track 1
Titãs “Sonífera Ilha”
Neste ska com hamonia e letra simples, o produtor Liminha lapidou um diamante sonoro. Embora sendo da fase inicial da banda (do álbum “Titãs”, de 1984), é sem dúvida uma das melhores músicas de seu repertório.
Bonus Track 2
Gilberto Gil “Vamos Fugir”
Com a participação do The Wailers – banda que acompanhou ninguém mais ninguém menos que Bob Marley - esta produção de Liminha (sempre ele!) não ficou nada a dever aos reggaes clássicos do ídolo jamaicano. A música faz parte do álbum “Raça Humana”, lançado em 1984.
PS: Esqueça aquela versão chata do Skank…
Sobre o Autor:
![]() | Harley Coqueiro - Advogado e Jornalista. Chargista e Cronista da Folha de Paraopeba. Fã de Beatles, de thrillers policiais e da boa comida mineira. |
4 comentários :
Bacana demais, amigo! Esse post trouxe-me lembranças bem legais dos bons anos 80, quando conheci pessoas referenciais em minha vida.
13 de novembro de 2012 às 09:57Olá, Harley!!!!
15 de novembro de 2012 às 04:25Parabéns!!!! Postagem ótima e interessante!!!!
Eu sou desse tempo, das músicas convidativas para se ouvir e dançar!!!!
Oh, quanta saudades e ainda bem, que você postou essa amostra de músicas boas, criadas naqueles tempos e que, não estão tão distantes assim, tanto é que para uns, os mais velhos, isto é uma bela recordação e... para os jovens, fica a deixa para que, se orientem na criação de novas músicas capazes de movimentarem os corpos e os espíritos das pessoas agora e no futuro!!!!
Um abraço!!!!!
@Francisco Valdir Valeu, Francisco!
19 de novembro de 2012 às 10:42Em termos musicais, nós tivemos o privilégio de apreciar música pop de qualidade numa década marcada pelas mudanças em todos os aspectos.
Trabalhei alguns anos com estúdio, ainda tenho em casa todo o equipamento mas não tenho mais tempo pra ele.
22 de novembro de 2012 às 10:35A respeito do post, achei de muito bom gosto. Mas aqui só venho salientar o talento de João Barone dos Paralamas, com um baterista desses facilita demais a vida de um produtor. :)
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