Contando a história real de um jovem nascido com paralisia cerebral que lhe tira todos os movimentos, exceto do seu pé canhoto, “Meu Pé Esquerdo” (“My Left Foot”, 1989) é uma fascinante história de superação e redenção. Vivido nas telas pelo astro Daniel Day-Lewis, o irlandês Christy Brown, apesar de todas as limitações, torna-se escritor, artista plástico e poeta notáveis. A magistral interpretação rendeu a Daniel Day-Lewis o Oscar de melhor ator em 1990.
Recentemente, a apaixonada torcida do Atlético Mineiro viveu uma experiência fantástica e, se pudesse, também daria um Oscar ao goleiro Victor. O motivo: a espetacular defesa realizada com o pé esquerdo, no derradeiro minuto da partida contra o Tijuana, do México, válida pela Copa Bridgestone Libertadores. A lendária defesa do pênalti garantiu a inédita classificação do Galo às semifinais da disputa, que de quebra, tornou-se o único clube brasileiro entre os quatro melhores das Américas.
Antes da defesa cinematográfica do goleiro Victor, a Massa do Galo viveu segundos angustiantes com o pênalti assinalado pelo fraco árbitro chileno, aos 47 minutos do segundo tempo. Os torcedores desceram ao inferno, e nas cabeças, passava um filme que, lamentavelmente, havia sido reprisado outras vezes.
Até então, embora eu sinta um entusiasmo muito grande com o atual time atleticano, confesso que não levava muita fé no desempenho do goleiro Victor. Por uma razão: tenho comigo a teoria de que um time de futebol, para ser vencedor, não basta ter um bom goleiro, mas um goleiro que opere milagres. E para mim, Victor dava a impressão de que era, no máximo, um bom goleiro. Ledo engano, ele faria o milagre que jogaria por terra a impressão estereotipada que eu tinha dele!
No momento do pênalti, o tímido goleiro do Galo sabia que o destino da equipe seria selado na competição com o gol mexicano. E depois de uma campanha envolvendo o trabalho de centenas de pessoas e a esperança de milhões, cabia às mãos (ou pés) de apenas um homem evitar o pranto e ranger de dentes naquela noite fria de outono. Era tudo ou nada!
Com a devida licença poética e parafraseando o craque Diego Maradona com as suas “Manos de Dios” contra a Inglaterra em 1986, na Copa do México, o goleiro Victor viria a fazer um prodígio o qual intitulei nas redes sociais como “Los Pies de Dios”.
Enquanto no filme “Meu Pé Esquerdo”, o seu protagonista demonstra que somente a morte pode acabar como os sonhos de um indivíduo, o goleiro Victor provou que, com o improviso de um pé esquerdo, pode-se, sim, evitar a morte dos sonhos de uma massa...
[Crônica publicada na Folha de Paraopeba, edição de junho de 2013]
Sobre o Autor:
![]() | Harley Coqueiro - Advogado e Jornalista. Chargista e Cronista da Folha de Paraopeba. Fã de Beatles, de thrillers policiais e da boa comida mineira. |
2 comentários :
Fantástica analogia, grande amigo! Sem dúvida, tal qual o filme, o lance do Victor ficará para a história do futebol, como outros grandes lances, por toda a circunstância. Da desesperança e do desespero, a torcida atleticana foi, literalmente, à explosão de alegria incontida. Mesmo que o destino não nos premie com o título maior, como todo atleticano de coração, a emoção é o que nos alimenta a alma. E neste momento, estamos empanturrados... mas ainda famintos.
25 de junho de 2013 às 10:02@The EDN Como diria um certo bruxo: "Tamo junto!"
27 de junho de 2013 às 15:44Postar um comentário
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