Antes que algum desavisado me acuse de herege, quero deixar bem claro que o título de “peladeiro” a ser conferido aos craques desta lista, deve-se ao estilo “solto” e “moleque” que cada um teve ou tem para praticar o verdadeiro Futebol Arte. “Peladeiro” aqui, não deve ser entendido na forma pejorativa.
Para se ter uma ideia, os “peladeiros” deste “Top Eleven” brilharam na seleção brasileira ou na seleção de seus países, no caso dos estrangeiros.
Na definição do Prof. Wilton Carlos de Santana, “peladeiro”, em geral, “é aquele que não foi orientado por bons técnicos, não treinou de forma sistemática e, por isso, não respeita princípios táticos do jogo”. Claro que este conceito não se aplica aqui, em sua plenitude, uma vez que estes “peladeiros” foram ou são profissionais bem-sucedidos do ludopédio.
E “peladeiro” é um ser onipresente. Reparem: está em todos os cantos do campo e com a bola nos pés. São invicioneiros, fominhas e têm o fôlego de 1000 tubarões brancos!
Ah, e neste “dream team”, eu ainda escalei os “peladeiros” pela posição de origem:
1 – Higuita
Esqueça os goleirões galãs e bem-comportados: o arqueiro da “defesa do escorpião” é uma lenda do futebol mundial. Audacioso, irreverente e talentoso, chegava ao extremo de atuar como líbero e desempenhava tal função com mais segurança que muitos zagueiros. Higuita ficou estigmatizado em razão do lance fatal da partida entre Camarões e Colômbia, válida pela Copa da Itália’90 [se bem que eu debito aquele lance na conta do zagueiro, que “amarelou” e recuou uma bola “na fogueira” para o goleiro, que teve de se virar na frente do craque Roger Milla. O resto da história, todos sabem...].
2 – Cafu
Reprovado em mais de 10 peneiras em vários clubes, Cafu é o símbolo da persistência dos “losers” que sonham com dias melhores. Com a bênção do Mestre Telê, este lateral-direito de condicionamento físico exemplar, brilhou no São Paulo, Europa e na Seleção Brasileira, levantando a taça da Copa da Coreia/Japão’2002 como o legítimo capitão e gritando aos quatro ventos: “Regina, eu te amo!”, comprovando a tese de que os peladeiros também amam...
3 - Júnior Baiano
Na Alemanha apelidaram Júnior Baiano de “Blackenbauer”, comparando-o à Beckenbauer (!). Claro que exageraram na comparação, mas Júnior Baiano, com o seu carisma e disposição, conseguiu a façanha de ter o seu futebol reconhecido pelos ultranacionalistas torcedores germânicos.
4 – Rondinelli
Rondinelli, “O Deus da Raça”, levava os torcedores do Flamengo ao delírio pelas suas atuações que eram um misto de “kamikaze” com gladiador romano. Conseguiu um título carioca em cima do Vasco nos últimos minutos, ao marcar um golaço de cabeça que teve a força de um chute e um valor histórico maior ainda: salvou uma geração inteira de craques da Gávea. Possesso, Rondinelli parecia ter uma bola capotão no lugar do cérebro, a ponto de, certa vez, deixar Zico assustado com a sua disposição em cabecear uma bola no pé do adversário e sair com a boca suja de sangue e grama (este “comia a grama”, literalmente!). Enfim, o lendário Flamengo dos anos 80 não era apenas Raul, Leandro, Júnior, Adílio e Zico. Tinha o Rondinelli também!
6 – Sorín
Lateral-esquerdo ou centroavante? Não interessava: a torcida do Cruzeiro foi seduzida pelo futebol de alto nível e garra deste argentino, que conseguiu fazê-la esquecer de ídolos recentes e vencedores como Nonato.
5 - Toninho Cerezo
Eu o considero “O Maior Peladeiro de Todos os Tempos”. Desengonçado, bigodudo e, com as meias arriadas, parecia ainda mais magricelo. Este ex-palhaço, exemplo típico do futebol praticado nos anos 70/80, brilhou no Atlético-MG, Roma e São Paulo, como um volante que jogava para a frente. Fez parte da “Melhor-Seleção-do-Mundo-que-Não-Ganhou-uma-Copa-ao-lado-da-Holandesa74”, que disputou a Copa da Espanha’82.
8 – Felipe
A imprensa carioca chegou a compará-lo ao Garrincha e eu concordo que chegou bem perto. Este ex-lateral esquerdo do Vasco, que atualmente atua com maestria no meio-campo, tem uma técnica mágica e inata: dribla com a bola e o adversário parados. Isso mesmo: os craques, quase que invariavelmente, driblam com a bola em velocidade e os algozes em movimento, enquanto o Felipe espera o seu marcador tomar fôlego e fazer o nome do Pai, antes de lhe dar o bote letal. E da forma como executa os seus dribles (influenciado pelo Mané Garrincha), tem um grau de dificuldade muito maior e que requer talento, técnica, concentração, confiança e irreverência. Pode se dizer que os dribles de Felipe são o que um ser humano consegue fazer para se aproximar do extraterreste Garrincha.
10 – Messi
Na infância, em razão da baixa estatura, teve que tomar hormônios para crescer. Tal como os super-heróis, o efeito colateral transformou o pequeno Messi num dos gigantes da história do Futebol Arte. Armador veloz e inteligente, o seu imensurável talento parece fugir ao seu controle (tem a marra de amarrar um barbantinho na bola). O seu belo futebol já está sendo comparado ao de Maradona e Di Stéfano, menos peladeiros que ele.
7 - Renato Gaúcho
Com Renato em campo, não tinha bola perdida. Desengonçado, meias arriadas a la Cerezo e trombador clássico. Tinha o físico de zagueiro mas era ágil em seus dribles: em 2 lances, este ponta-direita entortou os defensores alemães e deu o título do Mundial Interclubes ao Grêmio, em cima do Hamburgo. Versátil, quando não dava para resolver com os pés, ia com a barriga mesmo, como no histórico Fla-Flu, em que conquistou com bravura o título carioca para o time das Laranjeiras.
9 – Casagrande
Altão, cabeludo e desengonçado. Um dos líderes da emblemática “Democracia Corintiana”. Com os seus gols decisivos de centroavante oportunista e estilo de roqueirão setentista, conseguiu seduzir a apaixonada Fiel Corintiana.
11 – Garrincha
O que esse craque deve estar entortando de almas nas peladas do Paraíso não está no gibi. O “Anjo Torto”, como bem definiu Telmo Zanini, e que, segundo a lenda, por possuir uma perna mais curta, conseguia humilhar os “joões”. E assim, superando todos os preconceitos e estereótipos, este ponta-direita descendente de indígenas, tinha tudo para não vingar no futebol. Entretanto, como um personagem da Walt Disney num enredo de tragédia grega, teve uma carreira meteórica, regada a dribles cinematográficos, glórias internacionais e paixões mal resolvidas, que o levaram a sucumbir ao álcool, resultando num final miserável e melancólico, para a vergonha de uma Nação que desampara os seus heróis. A sua trajetória artística/futebolística lembrou e muito às dos cantores de “Blues” dos anos 30/40. Enfim, o Rei Pelé merece o nosso respeito, entende? Mas sem “a Alegria do Povo”, como também era conhecido o Mané, o futebol, conservador e careta do jeito que é, jamais teria graça!
* * *
Há ainda os reservas de luxo: Chilavert, Tupãzinho, Ronaldinho Gaúcho, Vampeta, Edilson Capetinha, Robinho, Riquelme, Paulo Nunes, Marcelinho Carioca, Iranildo e o aspirante à peladeiro Neymar.
Sobre o Autor:
![]() | Harley Coqueiro - um cara da paz, iluminista, torcedor do Galo, evangélico não fundamentalista, pai do Ulisses e do Dante. Já desenhou charges, escreveu poemas e compôs canções gospel. Tem como pecados, gostar em excesso de rock'n'roll, filmes e comida! |

12 comentários :
Prezado Coqueiro, excelente post, mas meu time titular de peladeiros não faltaria de forma alguma Dario Peito de Aço, o maior centroavante peladeiro invicioneiro de todos os tempos, sem dúvida nenhuma! É titularíssimo... Muito mais peladeiro que o Casagrande.
26 de abril de 2010 às 09:40Além dele, minha zaga teria, no lugar do Rondinelli, o rei da raça Olivera. O barbudão era um símbolo da raça uruguaia. Na lateral esquerda, no lugar do Sorin, lembraria o Cincunégui, outro uruguaio e de uma raça surpreendente, que foi o jogador mais raçudo que já vi jogar (uma vez, esteve em Caetanópolis, em jogo festivo contra o famoso time do Cedro Esporte Clube, já veterano, deixando-me admirado de vê-lo correr como um louco, não aceitando a derrota de forma alguma).
Corrigindo o comentário: onde se lê "lembraria o Cincunégui, outro uruguaio e de uma raça surpreendente, que foi o jogador mais raçudo que já vi jogar (uma vez, esteve em Caetanópolis, em jogo festivo contra o famoso time do Cedro Esporte Clube, já veterano, deixando-me admirado de vê-lo correr como um louco, não aceitando a derrota de forma alguma)", leia-se "lembraria o Cincunégui, outro uruguaio e de uma raça surpreendente, e o Jorge Valença, que foi o jogador mais raçudo que já vi jogar (uma vez, esteve em Caetanópolis, em jogo festivo contra o famoso time do Cedro Esporte Clube, já veterano, deixando-me admirado de vê-lo correr como um louco, não aceitando a derrota de forma alguma)."
26 de abril de 2010 às 09:42Não vou poder opinar de maneira conclusiva, pois pra min peladeiro sempre foi o "CRAQUE" que não se prendiam a esquemas tacticos, não obedecia determinações tecnicas, sequer tinha respeito pelo profissão ou pelos treinamentos e condicionamento fisico mas acima de tudo compessava a falta de compleição fisica com habilidade e determinação.
26 de abril de 2010 às 15:50Quem jogo bola na varzea conhece centenas de historias de jogadores extremente habilidosos e que atuam com desdem, mas ao receberem a bola são maestro...como os de antigamente e não esse eufemismo idiota que é propragado aos quatro ventos.
Sendo assim discordo totalmente de sua a lista que ja começou me ofendendo ao colocar as palavras craque, Junior Bahiano, Cafu e Garricha no mesmo Ranking...minto, sua lista está quase perfeita Sob-meu-ponto-de-vista acrescentaria Romario, Dr. Socrates, Neto, Válber(volante São Paulo e todos times do Rio)e Roger Galisteu
The EDN,
26 de abril de 2010 às 17:22Bons nomes sugeridos. Só que entendo que deixariam a lista "atleticana" demais!
Quanto ao Rei Dadá, no meu entendimento, jamais poderia figurar nesta lista: era ruim demais! KkKkKkKkK!
Zé da Fiel,
As suas sugestões também poderiam deixar a lista "corintiana" demais...KkKkKkK!
Eu poderia rever a questão do Válber no miolo da zaga.
Quanto ao Dr. Sócrates, entendo que ele poderia figurar mais numa lista dos "Jogadores Mais Cerebrais do Futebol Brasileiro", do que nesta.
Coqueiro, permita-me discordar veementemente pela primeira vez de você: um homem que fez quase mil gols na carreira, jogou nos maiores clubes do Brasil (embora se identifique mais com o Galo, por ter feito o gol do título brasileiro de 1971), não pode ser tão ruim... Dentro da área, ele era um craque. Não tinha a habilidade de um Romário ou de um Reinaldo, mas finalizava como poucos, principalmente de cabeça. Um camarada de origem humilde, mas que personifica o verdadeiro brasileiro na sua essência: otimista, lutador, "não desiste nunca", superou a pobreza contra todos os prognósticos e tornou-se um ídolo nacional. Todos questionam sua habilidade para fazer gols cheios de firulas ou para driblar, mas é absolutamente inquestionável sua capacidade de finalizar, de fazer gols, que é o que interessa no futebol.
27 de abril de 2010 às 07:22Falo mais: se tivéssemos um Dario Peito de Aço hoje no futebol brasileiro, tão carente de craques, ainda assim seria ídolo. Pense bem: quando ele jogou, o futebol brasileiro vivia uma de suas melhores épocas, em termos de craques.
Mais um argumento: conhece alguém mais peladeiro que ele?
Só eu mesmo...
Acho que caberia o Romário e o seu bicudinho mortal neste rol, jogadinha típica de peladeiro na qual o baixinho era imbatível.
27 de abril de 2010 às 09:09Que bela discussão, hein? Para mim ainda faltou o Denilson. O que ele fez em 2002 foi d+.
28 de abril de 2010 às 13:23Richard,
28 de abril de 2010 às 13:57Você percebeu né? O trem aqui tá rendendo...!
Bem lembrado. O Denílson se encaixa perfeitamente no perfil dos peladeiros deste "dream team"!
Pelé !!!!!!
28 de abril de 2010 às 17:42o meu filho.. jamais deixe de fora o romario, a cara mais malandro do futebol, um jogador que nunca foi atleta, nem treinava, o peladeiro que trouxe uma copa pra gente.
29 de abril de 2010 às 01:35e como comentado acima a palavra craque com junior baiano e cafu na mesma lista é ruim de ler.
discordo de varias coisas.. mas ai eh eh gosto pessoal mas o q disse acima se fez necessario
Anônimo I: Pelé?!?!?!?!?!
29 de abril de 2010 às 09:35Anônimo II: Romário? Sei lá... Achava o baixinho muito competitivo em campo. Já extra-campo, o fato dele não gostar de treinar não o credencia a ser "peladeiro", na minha modesta opinião.
Quanto ao Júnior Baiano e Cafu, craques ou não, tiveram boas atuações pelos seus clubes e Seleção Brasileira, disputando copas do mundo, inclusive.
Cara bom post, mas eu acho que alguns nomes desvirtuaram um pouco do pretendido..
1 de maio de 2010 às 14:01Rondinelli e junior baiano acho que não se enquadram bem no conjunto, analisando os outros membros..
no mais, eu ainda incluíria denílson, djalminha e o nosso famoso "Quando eu nasci, Deus apontou o dedo em minha direção e disse: esse é o cara"
abç
Postar um comentário
# Antes de comentar, leia o artigo;
# Os comentários deverão ter relação com o assunto;
# Pode criticar a vontade, inclusive o blogueiro;
# Comentários ofensivos ou pessoais serão sumariamente deletados;
# As opiniões nos comentários não refletem a opinião do blog e são de inteira responsabilidade dos seus autores;
Twitter Trackbacks