Você, caro leitor, já deve ter assistido ou pelo menos ouvido falar do filme “Quero Ser John Malkovich” (Being John Malkovich, EUA, 1999), estrelado por John Cusack, Cameron Diaz e o próprio John Malkovich, no papel de si mesmo. É imperdível!
Eu, por algumas vezes, já pirei de me imaginar sendo uma destas figuras intrigantes em várias fases da minha vida: Bruce Wayne (dos 5 aos 7 anos), Speed Racer (dos 8 aos 10), Éder Aleixo de Assis (dos 11 aos 13), Michael Jackson (dos 14 aos 15), Elvis Presley (aos 16), Lenny Kravitz (aos 22), Edmundo Alves de Souza Neto (aos 25), Rocco Siffredi (oops!), e claro: Paul Macca!
Mas no “dream team” acima, eu omiti um nome, que não é tão “pop” quanto os demais, mas de uma importância na literatura mundial como poucos. Trata-se de Ghiyath Al-Din Abu'l-Fath Omar Ibn Ibrahim Al-Nishapuri Al-Kháyyám, ou simplesmente Omar Kháyyám (Nichapur, Pérsia, 1040 – 1125), grande matemático e astrônomo, além de ter sido um poeta, cuja obra fui conhecer aos 16, 17 anos, enquanto me aventurava pelos labirintos caleidoscópicos da poesia. Na época fiquei impressionado com os belos versos em ritmo eclesiástico e por sua visão da precariedade do destino humano, tendo sempre o vinho como bálsamo para a alma dolorida do poeta.
Omar Kháyyám (pronuncia-se “omáre xaián”) era um iluminista e ambientalista a frente de seu tempo e me fez ter uma outra percepção da existência humana, pelo seu desprezo às vaidades terrenas; pela busca de respostas no campo espiritual e pela exaltação à natureza.
Lembro de um Rubai (poema em quatro versos) que eu havia datilografado deste poeta persa e era o prefácio de meu portfólio de charges, caricaturas e outros imbondos de minha juventude:
A nossa vida é breve como um incêndio.
Chama, que um leve sopro apaga;
Cinzas, que o vento dispersa:
Eis a existência de um homem.
Acostumado aos poemas de gigantes da poesia ocidental, tais como Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade, Fernando Pessoa, Charles Baudelaire, Allen Ginsberg, Ian Curtis, Jim Morrison, Pablo Neruda, Alda Ghisolfi, Renato Russo, The EDN, etc, Omar Kháyyám, com a influência do islã e da rica cultura árabe, me fascina até hoje com os seus Rubaiyat (plural de Rubai):
Os sábios e os filósofos mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância.
E eram os luzeiros do seu tempo...
Em suma, que fizeram eles?
Pronunciaram algumas frases confusas e adormeceram fatigados.
Há miríades de séculos, as auroras e os crepúsculos sucedem.
Há séculos e séculos os astros fazem a sua ronda de sempre.
Pise a terra com cautela...
Talvez o torrão que vais esmagar tenha sido o olho ternode uma bela adolescente.
Não pedi a vida a ninguém.
Esforço-me por acolher sem espanto e sem cólera tudo o que a vida me oferece.
Partirei sem indagar.Sim, partirei sem indagar o motivo da minha misteriosa estada neste mundo.
E esta é apenas uma pequena amostra do que me fez querer ser Omar Kháyyám, também...
Sobre o Autor:
Harley Coqueiro - um cara da paz, iluminista, evangélico não fundamentalista, pai do Ulisses e do Dante. Já desenhou charges, escreveu poemas e compôs canções gospel. Tem como pecados, gostar em excesso de rock'n'roll, filmes e comida! |
3 comentários :
Não queria ser Omar, mas queria o mar para ir além do aquém e entregar meus sonhos a quem quiser vê-los e desenrolá-los como novelos e esticar a linha da vida como a frase poética que insisto em manter cada vez mais longa.
13 de abril de 2011 às 20:23EDN,
13 de abril de 2011 às 22:07KkKkKkKkKkK!
Este deve ter sido o verso mais omarcaiano de seu repertório...
Caro amigo, obrigado pela inclusão na lista acima, mas realmente sou indigno total e definitivamente. O grande Omar é uma figura inigualável e eu ouso citar outro grande poeta, dotado de estro e espiritualidades ímpares: Khalil Gibran. Foi ele quem disse: "Uma voz não pode transportar a língua e os lábios que lhe deram asas. Deve elevar-se sozinha no éter."
14 de abril de 2011 às 16:41As vozes desses mestres estão ainda por aí...
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