Escrevo este post com um certo receio. Depois de um certo tempo sem contribuir para o espaço invicioneiro (que, aliás, não sentiu nem um pouco minha falta, como sempre abrilhantado pelos seus mestres criadores e eternos mantenedores Zé Márcio e Harley Coqueiro), não sei o que escrever.
Neste novembro, estou de férias, feliz junto a minha família, viajei para o litoral (Guarapari) depois de 20 anos, brindando meus filhos com a oportunidade de conhecer o mar. Poderia falar dessa viagem neste post. Mas não sei se o faço.
Neste novembro, Steve Jobs nos deixou e isso é algo importante. O fato de estar postando algo neste espaço invicioneiro muito se deve a ele. Mas depois de tudo o que já se falou a respeito de sua morte e de sua vida (o que é muito mais importante), inclusive com uma biografia “autorizada”, não quero ser repetitivo e não escreverei sobre isso.
Neste novembro, após 25 anos lecionando, constatei a presença indesejável de nódulos nas pregas vocais, o que me obrigará a um acompanhamento otorrinolaringológico e várias sessões com um fonoaudiólogo. Mas não sei se escrevo a respeito.
Muitas outras coisas ocorreram neste novembro de que eu poderia falar nesse post. Mas o que me motiva agora é apenas a oportunidade de retornar a esse espaço. Retorno tímido, paradoxalmente cabisbaixo e de olhar atento para a luz que brilhou nesta segunda-feira, depois de vários dias chuvosos e frios.
A chuva fria e soturna deste novembroAqueço-me sob o cobertorSinto-me ao mesmo tempo apreensivo e serenoNeste paradoxo que costumeiramente me encaixoConsidero-me ainda sonhadorEscrevendo em tercetos meu verso livre e plenoOlhando para cima sempre e às vezes para baixoNão busco a rima fácil simplesmenteAs palavras comandam meus dedos que digitam freneticamenteE os advérbios surgem para compor pauperrimamenteO encadeamento deste quarteto fora de contextoMais um terceto vou escreverNão sei se alguém terá tempo ou disposição para lerRetorno ao espaço virtual sem muito brilho, eu sei disso...Três ou quatro versos não revelam esse rebuliçoDe emoções dentro de mim... Saio da cama pois já não durmoE quero sair um pouco para curtir o sol que me faz sonharDesço as escadas para chegar ao altoAbro as janelas da torre e fico olhandoA chuva fria e soturna deste novembro...
A chuva fria e fina costuma trazer para as pessoas momentos de introspecção. Pode ser coincidência, mas enquanto eu redijo este post, ouço agora “Pensando nela”, pelo excelente Roupa Nova (gravada originalmente pelos Golden Boys).
“Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e o desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que não nos é dada, não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens.” (Ferreira Gullar)
Sobre o Autor:
The EDN - sou industriário, trabalho há 27 anos na Cedro (indústria têxtil centenária de Caetanópolis, MG) e atuo como professor há 24 anos em escolas particulares e públicas |
5 comentários :
Prezado mestre Ernane, como bom invicioneiro que é sabe perfeitamente que sua presença por aqui sempre será exaltada e sua ausência sempre deixará um vazio que mesmo que nos esforcemos, jamais preencheremos. Você tem essa virtude, mesmo quando diz que não tem nada pra falar nos surpreende com uma belíssima poesia.
25 de outubro de 2011 às 09:51Suas palavras me fizeram viajar no tempo e recordar dos versos de Carlos Drummond de Andrade:
"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudí-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo."
Gostaria muito de ter tido a maturidade que tenho hoje quando era seu aluno, decerto que teria aproveitado com muito mais sabedoria esse tempo. Essa constatação às vezes nos trazem angústias, como um certo alguém bem descreveu: "A juventude seria a época ideal da vida se chegasse um pouco mais tarde."
Bem, vamos lá, nunca passeei por estas páginas. Hoje é a primeira vez!
25 de outubro de 2011 às 10:37Coisa triste a VIDA de professor, também sou, e muitos têm final de carreira atribulado e cheio de surpresas não tão boas. Sorte em sua caminhada quanto às pregas vocais.
O poema é belo, novembro é um mês belo assim como os outonos. Acho mesmo que novembro deveria pertencer ao OUTONO.
Ouvir Roupa Nova vale-nos o dia...
No demais, Boa Sorte!!!
Abraços
O bom filho à casa retorna!
25 de outubro de 2011 às 10:40Dois dias após ter publicado o post, dei-me conta de que estamos ainda em outubro e não em novembro. Isso torna o post e a situação meio surreal. Decido agora, no entanto, não alterá-lo, por mais que isso possa parecer meio risível, para não dizer ridículo.
26 de outubro de 2011 às 14:31Agradeço os comentários, caros Zé Márcio, Coqueiro e Malu. Muito feliz por ter novamente disposição para escrever.
Ernani, mestre é para sempre mesmo... sua inteligência e capacidade se expressar coisas belas com palavras difíceis... me surpeende.
26 de outubro de 2011 às 15:47Parabéns mestre!!!!
Boas férias!
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