Certa tarde, estava eu e a minha esposa assistindo ao “Nat Geo Wild”, canal da “National Geographic”, que exibe séries e documentários sobre o sempre instigante mundo selvagem. E eu, aficcionado por este tipo de programação, às vezes me pergunto se o que mais me atrai é o fascínio pela natureza ou o conforto de saber que, apesar de toda a maldade do civilizado bicho homem, não somos praticantes da cruel “seleção natural” de Darwin, apesar de caminharmos para isso...
Pois bem. Naquela tarde, o “Nat Geo Wild” exibia um interessante documentário sobre a vida dos leopardos no coração da África. Assistíamos ao drama de uma mãe leopardo que acabara de dar cria e que teve de se afastar do grupo para livrar o seu filhote das garras dos machos adultos que, instintivamente, matam os filhotes que não são os de sua descendência.
Seguindo o sagrado instinto maternal, a mãe leopardo teve de se esconder com o filhote numa pequena gruta de difícil acesso, o que, em tese, dificultaria ataques de outros leopardos, leões e hienas. Entretanto, a necessidade de se alimentar e assim poder amamentar o seu filhote, obrigou a mãe a deixá-lo momentaneamente na gruta para partir à caça de algum mamífero cervídio (veados, gazelas, etc) longe dali. Levar o filhote consigo, poderia expô-lo aos ataques de outros animais.
A produção do documentário, por sua vez, posicionou uma câmera para filmar os passos da mãe leopardo, e outra, para focalizar o filhote que brincava solitário na gruta, tal como uma inocente criança no berço, aguardando a chegada da mamadeira…
Entretanto, o local que a mãe julgava ser a fortaleza intransponível para a proteção de seu filhote, revelou-se ineficaz para impedir a entrada de uma píton constritora (semelhante à sucuri). De repente, não mais que de repente, enquanto a mãe leopardo tentava, sem sucesso, capturar alguma presa, o seu filhote sucumbia ao furtivo ataque da faminta serpente...
Quando retorna à gruta, a mãe leopardo, além da frustração de não conseguir uma caça sequer, depara-se com a gruta vazia. Farejando, consegue chegar ao encalço da píton que não estava muito distante dali, carregando o peso do filhote de leopardo que jazia em sua barriga.
Diante daquela cena tétrica, eu não me contive:
“O cinegrafista filmou a cobra atacando o pequeno leopardo e nada fez para salvá-lo?”.
A resposta que ouço é desconcertante, perturbadora:
“Ninguém pode interferir: a natureza tem de seguir o seu curso.”. Ponderou friamente a minha esposa.
Embora tal assertiva soasse como um tapa no pé do ouvido, fazia um certo sentido: “Quantos filhotes e mães de filhotes essa mãe leopardo também não matou para saciar a sua fome?”.
Na verdade, a produção do documentário seguiu à risca aquela canção de Paul McCartney: “Live and Let Die” (“viva e deixe morrer”) - composta exclusivamente para o filme “Com 007 Viva e Deixe Morrer” (GB, 1973) - embora a “insensibilidade” da equipe de produção deixou-me incomodado:
“Se fosse eu teria, pelo menos, espantado a cobra para longe dali… Afinal, desde quando o homem alguma vez se preocupou em deixar a natureza seguir o seu curso?”
Bonus Track 1:
Bonus Track 2:
Sobre o Autor:
![]() | Harley Coqueiro - Advogado e Jornalista. Chargista e Cronista da Folha de Paraopeba. Fã de Beatles, de thrillers policiais e da boa comida mineira. |
6 comentários :
Instigante o seu texto, mas quanto ao "Live and let die", creio que, às vezes, estamos diante de situações inusitadas, como o Paradoxo de Pinóquio (para saber mais, clique em http://pt.wikipedia.org/wiki/Paradoxo_do_Pin%C3%B3quio), ou seja, algo meio sem resposta. A Ética, por si só, não responde essa questão. Aliás, o próprio homem é um grande predador de filhotes...
1 de dezembro de 2013 às 10:58Deixe a natureza seguir o seu curso... http://revistagloborural.globo.com/Colunas/planeta-bicho/noticia/2014/01/fotografo-flagra-cobra-devorando-sapo-vivo-e-sente-culpa-por-nao-ajudar-presa.html
7 de janeiro de 2014 às 12:02Deixe a natureza seguir seu curso... rsrs. Muito bom!
18 de janeiro de 2014 às 07:52@Ricardo de Jesus Valeu pelo comentário. Sucesso!!
20 de janeiro de 2014 às 10:25Muito bom o post. Quanto à nós seres humanos, que não fiquemos parados diante do curso da natureza humana em ignorar e maltratar seu semelhante.
13 de fevereiro de 2014 às 14:02@Marcelo Negreiros Obrigado, Marcelo, gostei de sua presença de espírito no comentário postado!!
21 de fevereiro de 2014 às 11:17Volte sempre!
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