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Santos Reis

Compaixão e Redenção

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

 

 

 

Uma das passagens bíblicas que mais me emociona e que, para mim, carrega um dos mais simbólicos ensinamentos do Cristianismo é a redenção da mulher surpreendida em pecado capital, narrada no evangelho de João (também conhecida como a “Perícopa da Adúltera”).

 

A_Adultera_thumb[2]

 

Conquanto muitos ainda acreditem que Maria Madalena seja a protagonista daquela história, estudiosos concluem que não se trata da mesma pessoa.

 

Flagrada em adultério (embora não haja pistas se a acusada era casada ou não) numa sociedade marcada pela intolerância religiosa, uma mulher indefesa é humilhada e arrastada até à presença de Jesus, o Cristo, por homens e religiosos (escribas e fariseus). Oportunistas, eles vêm a oportunidade que tanto queriam para criar uma cilada para Jesus e desmoralizá-lo diante do povo e de seus discípulos.

 

Na minha cabeça, imagino uma cena de cinema, com toda a carga da dramaticidade psicológica de um Martin Scorsese: no meio da multidão, Jesus, cabisbaixo, sentado na beira do caminho, sob um sol escaldante, desenhando figuras disformes no chão; à sua frente, uma mulher apavorada, subjugada nas mãos de uma turba de fanáticos sedentos por sangue e desgraça.

Mestre, esta mulher foi pega em adultério. Devemos apedrejá-la?

Aquela pergunta corta o ar como uma adaga. Instantes tornam-se uma eternidade. À mulher, resta-lhe a resignação de uma ovelha esperando pela imolação...

 

Os homens ao redor, bufando e empunhando pedras, aguardam impacientes o veredito para malharem a mulher.

 

Alguém repete a pergunta. Jesus, sem interromper os seus rabiscos, com um meneio de cabeça, apenas admoesta, quase sussurrando:

 

Quem dentre vós, não tiver pecado, atire a primeira pedra.

 

Um silêncio paira sobre todos os presentes, sendo quebrado pelos passos envergonhados dos homens afugentando-se do local como uma revoada de abutres espantados da carniça.

 

Passado um breve momento, Jesus finalmente levanta a cabeça e mira apenas a mulher ajoelhada e cabisbaixa, imersa em soluços.

 

Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?

 

Ninguém, senhor!

 

Nem tampouco eu te condeno. Vá, e não peques mais.

 

Essa última frase, partindo de quem a proferiu, é de arrepiar. Os meus olhos não resistem!

Confesso que jamais vi nas Sagradas Escrituras, outra passagem onde a misericórdia e a redenção triunfassem de forma tão arrebatadora, tão humana (Aliás, nunca vi isso em nenhum outro lugar na História da Humanidade!)!

 

Acredito que, de todos os prodígios, de tudo o que Jesus pregou e praticou (mais até que a expulsão dos vendilhões no templo), o que foi mais determinante para a sua crucificação foi justamente esse episódio: como poderia, numa sociedade machista e puritana, admitir-se que uma mulher, flagrada em ato indecoroso, escapasse de uma punição e os seus “santos carrascos” ainda fossem “chamados” de pecadores aos olhos de todos?

 

Naquele contexto, um jovem messiânico com “tais ideias subversivas e controvertidas”, e com um imenso carisma sobre as massas, representava muito mais perigo para os poderosos que a própria dominação romana. Àquele Justo, não restava outro destino, senão a crucificação pelos seus próprios conterrâneos. E isso, para eles, valia muito mais que o cumprimento de uma profecia ou a remissão dos pecados da Humanidade...

 

Sobre o Autor:
Harley Coqueiro

Harley Coqueiro - Advogado e Jornalista. Chargista e Cronista da Folha de Paraopeba. Fã de Beatles, de thrillers policiais e da boa comida mineira.

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